18 agosto 2009

A deficiência contribui para o insucesso no amor

Por vezes tentamo-nos enganar a nós mesmos, crendo que uma pessoa com deficiência tem as mesmas hipóteses de conquistar uma outra pessoa, sem defeitos físicos, para uma relação amorosa. Pura ilusão.
Centrando-me num caso como o meu, uma pessoa com deficiência visual, cego total ou com visão muito reduzida, perdem-se a olhos vistos (desculpem a metáfora) as chances de impressionar alguém. Senão vejamos: não dá para pegar no carro e levar a menina a dar uma volta; não dá para jogar todo e qualquer tipo de jogos visuais, aqueles que servem para toda a gente se divertir e passar um bom bocado; não dá para acompanhar a esmagadora maioria da linguagem visual - os gestos, os olhares, as expressões e afins; também não dá para ir ao cinema com o à-vontade de quem tem "olhos na cara"; não dá ainda para cumprir correctamente tarefas tão básicas como servir um prato de comida; muito mais coisas ficam por dizer...
E a que é que isto leva? Muito simples: a uma perda de auto-estima por parte da pessoa com deficiência; a um baixar de braços, como quem pensa que "aquela pessoa não é para mim". Na prática, a pessoa sente-se inútil e profundamente desinteressante, sentimentos legítimos, especialmente se envolverem pessoas com elevada sensibilidade ou demasiada necessidade de se sentir integrado e prestável para os outros.
É duro e custa a aceitar, mas é a pura realidade. E não há qualidades que possam colmatar todas estas lacunas. Porquê? Porque o mundo está construído para o sentido da visão. O resto são adaptações que se fazem, mas que não superam algumas das coisas mais simples da convivência humana. Digamos que nem todos jogam com as mesmas armas e, em resultado disso, quem ganha quase sempre é quem está mais "armado".
Parece que já caiu em desuso o conceito de "coitadinho", mas surgiram outros tão maus ou piores do que esse. Hoje em dia, a pessoa com deficiência é vista como uma mais-valia "porque dá jeito", ou um bom amigo "mas nunca um bom namorado", ou mesmo um trabalhador exemplar, "porque não é politicamente correcto dizer mal das pessoas" - até podem sesr péssimos, mas é mais bonito dizer-se que trabalham muito bem. Mas estava a falar do amor...
Por isso, não é de espantar que a maioria das pessoas com deficiência se junte com outras pessoas nas mesmas condições. Ao menos, não se notam tanto as diferenças. Digamos que é um mundo mais ao alcance. Desculpem o desabafo, tem alguma coisa a ver comigo.