04 julho 2007

Trocam-se os afectos pelos números

No nosso mundo, os números são quem dita as leis da vida humana.
Troca-se dois minutos de conversa por uma corrida apressada para apanhar o próximo comboio. Troca-se um dia com alguém de quem se gosta (ou connosco próprios) por meia-dúzia de papéis. Troca-se um jantar romântico por uma reunião absolutamente inadivável e urgente, na qual somos altamente necessários e completamente insubstituíveis. Troca-se a honestidade por não sei quantos por cento de votos. Troca-se o humanismo, o respeito e a qualidade pelo máximo de audiências. Troca-se a calma pelo dinheiro. Trocam-se os dias úteis pelos dias inúteis, por falta de alegria. Trocam-se as voltas pelas idas... E como fica o coração? Fica com as voltas trocadas, claro está.
Já pensaram como seria se as trocas fossem ao contrário? Eu já... Seria bem melhor... já não peço todo esse utópico "se", mas pelo menos parte dele, aquela que não é assim tão inatingível... No fundo, temos medo que os números nos faltem. E quando nos apercebemos que afinal não precisamos assim tanto deles, quando percebemos que os números passam e a vida não pára, pode ser tarde demais.